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Por muitas vezes eu disse que te perdoei.
Por muitas vezes eu acreditei que te perdoava com todo o meu coração.
Mas a verdade mesmo, é que todas essas vezes eu fingi – pra você e pra mim – que perdoava.
Fingi porque... perdoar é uma coisa nobre, né? E eu queria ser nobre diante de toda a dor que eu sentia.
Se não perdoasse, o que eu teria, senão a dor que me causou?
Poucas vezes eu entendi a dor. E quando entendia, nunca quis senti-la, ainda que meu pai ouvisse bastante esse CD do Titãs no som do carro quando dirigia à noite e “não fuja da dor” tenha sido uma das mais ouvidas da minha infância muito antes da retrospectiva do Spotify.
Preferia fingir que te perdoei por algo porque não queria deixar que a dor entrasse, contaminasse, me enlouquecesse e me ensinasse. Se eu te perdoo, então você tem uma dívida comigo, certo?
Errado.
Existe uma soberba em dizer que perdoa algo ruim que alguém fez, dá uma sensação de justiça, um poder sobre alguém que errou. Dá um ânimo pra brigar, alimenta o ego e parece que a gente é maior do que quem nos fez mal.
Eu entendo isso. Se eu fecho os olhos para a dor que me causou, então, sou incapaz de te perdoar de verdade e vou viver uma vida inteira acreditando que sou, de alguma forma muito distorcida, superior a você.
A verdade é que não sou superior a você porque te perdoei. E digo mais, na verdade, sou inferior a mim mesma, porque passei por cima da minha dor para esquecer a sua e isso também entra na conta da dívida que um dia achei que a gente tinha.
Eu fui boazinha com você e isso deve contar pra algo, né?
Ser boazinha assim, não conta nem pra entrar no céu. Porque Deus disse “ame o próximo como a ti mesmo” pressupondo que nós teríamos algum tipo de apreço por nós mesmas.
E eu comprovei escrevendo isso que talvez não tenha tanto apreço – e isso pode ser papo para outro dia se quiser.
Sentir que tem algum poder sobre a dor que o outro te fez sentir dá uma falsa sensação de controle. Parece que se eu for superior a você, então também posso controlar toda a dor que nos faço sentir.
Percebe o quanto esse pensamento é ridículo? Porque quanto mais fundo estou indo nesse assunto, mais ridícula eu me sinto por um dia ter pensado assim.
Quando digo que te perdoo para evitar sentir a dor que me causou, finjo que todo o sofrimento nunca existiu. Nunca serei contaminada. Nunca enlouquecerei. Nunca aprenderei nada.
A única coisa que vou fazer é alimentar uma vingança infundada e viver um cabo de guerra com você, tentando sempre provar que eu sou melhor do que seu erro. E esse vai ser o meu maior fracasso – viver a vida tentando provar pra mim e pra você que sou melhor.
Eu não serei melhor que você. Na verdade, eu nunca serei melhor do que ninguém, não importa o quanto eu queira ser boa – e esse é um dos meus maiores traços tóxicos: querer ser boazinha o tempo todo.
Não é porque eu disse que te perdoo, que realmente te perdoo.
Não é porque eu inventei uma dívida nossa, que você é obrigado a pagar.
Muito pelo contrário, quando aumento a sua conta comigo, estou apenas aumentando a minha conta comigo. E quem vai ter que pagar esses juros astronômicos sou eu, todas as vezes que acreditar, por um segundo, que sou melhor do que você.
Escrevendo isso eu percebi que não sou melhor do que você porque disse que te perdoava, mas com certeza fui melhor que eu mesma quando permiti que a dor entrasse, me contaminasse e me enlouquecesse. Fui melhor que eu mesma quando aprendi com a dor que me causou e escolhi não alimentar mais a nossa dívida.
Não sei se te perdoar – de verdade dessa vez –, me fez superior a você, mas definitivamente me deixou mais feliz.
Mas honestamente,
dá pra perdoar de verdade? Se sim, como?
Então, se você, sis, chegou até o final e está se perguntando se eu não acredito em perdão. Saiba que eu acredito muito em perdão e genuinamente acho que é a melhor forma de lidar com um erro – seja seu ou do outro.
No entanto, perdão não é o tipo de coisa que te faz sentir vingada ou satisfeita. Perdoar é deixar a dor entrar, contaminar tudo; deixar que ela enlouqueça cada parte de você.
Para, só então, deixar os erros seguirem seu curso. Sinta a dor com intensidade, depois solte aquela falha. Entenda que errar dói e que muita gente vai errar com a gente das mais diferentes formas. E vai deixar marcas.
Porque, no fim das contas, você não é o seu erro, a dor ou o erro que cometeram com você e tem direito a viver, ainda que com muitas falhas.
Pra mim, perdão é única forma de se sentir em paz com as falhas e ele só acontece quando não foge da dor.
Antes de ir… algumas coisas que vi por aí e lembrei de você.
🥵 amei esse treino pra fazer em casa essa semana.
🤓 se está buscando “o seu propósito”, escuta essa história.
📖 minha leitura atual que estou tentando ler com calma, mas provavelmente não vai durar até o fim da semana.