#4. Posso te dar conselhos, mas não posso escolher por você.
O melhor conselho que minha mãe me deu e eu era jovem demais para entender.
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Tinha uns 7 anos quando a minha mãe me escreveu a primeira (e única) carta de desculpas por uma briga que tivemos. O motivo da briga? Não me lembro e nem tem relevância, mas tem 90% de chance de ser alguma coisa que ela acreditava ser o melhor para mim e que toda a minha sabedoria mirim e a alma de advogada que eu sempre tive, discordavam veementemente.
Saí com meu pai naquele dia e, quando voltamos, ela tinha escrito uma carta grandona numa folha vermelha e as minhas canetas-gel que ganhava da professora na escola por ser uma “boa aluna” – e não se preocupe, as boas alunas são um tema pra outro dia. Dentre muitas coisas escritas, a mais marcante pra mim foi:
“Eu posso te dar conselhos, mas não posso escolher por você”
Na época não dei muita bola pra essa frase porque não compreendia a profundidade da coisa. Então, encontrei a folha vermelha outro dia em uma das limpezas sazonais que faço nas gavetas pra ter certeza que (não) desapeguei de algumas memórias ainda.
Uma das coisas que tendem a acontecer depois que a gente cresce é passar a concordar com aqueles conselhos que pareciam papo de velho que não sabe de nada que nossos pais nos deram.
A outra é que não existe almoço grátis. Se você está pendurando os boletos da sua vida, a conta vai chegar com juros.
Digo isso porque, muitas coisas da minha vida de recém adulta, tentei delegar para outras pessoas (como sempre foi) e o resultado foi desastroso, como tentar dirigir a 100 km/h sem freio num lugar que você não conhece.
Às vezes a gente disfarça essas pequenas delegações cotidianas de conselhos que a gente pede para as amigas, pra psicóloga, pra família… Sem perceber que, ainda que nos amem muito, não sentem o que a gente sente, não vivem a vida que a gente vive e, o mais importante, não lidam com as consequências das escolhas que a gente não fez.
Porque a verdade é essa: quando você delega uma decisão, você está escolhendo não decidir nada.
E isso parece super reconfortante, porque se der errado, eu culpo aquela pessoa que me induziu a escolher isso e não preciso sentir a culpa de ter errado na escolha.
Mas honestamente,
culpar alguém por um erro seu não vai diminuir as consequências da escolha que você escolheu não fazer.
Falo isso porque não escolhi meu curso na faculdade e deixei que meus pais me aconselhassem e que uns testes psicológicos escolhessem por mim. Lá fui eu ser caloura de direito, um curso que eu nunca, sequer, cogitei fazer, mas como já estava escolhido foi mais fácil.
Ou foi o que eu pensei.
Antes de implorar para largar a faculdade todos os dias nos últimos 2 anos e meio de formação porque não queria ficar pesquisando legislação todos os dias da minha vida até o dia da minha morte. E eu sei que fui privilegiada por ter a oportunidade de fazer uma faculdade e blá blá blá, mas quando você está em um lugar que te dói, tudo o que você quer fazer é sair dele o mais rápido possível.
Nesse momento, ainda que eu tivesse um psicólogo, um teste vocacional e meus pais para culpar pela escolha terrível que eu não tomei. A culpa não era o pior do meu cenário.
Ainda tive que lidar com as consequências de ter ido parar em um curso que não me preenchia, estudar a legislação meio esquizofrênica e bipolar do Brasil e perceber diariamente que o mundo que eu esperava do direito era uma falácia.
Eu fui para o direito querendo ajudar pessoas em situações difíceis e acabei descobrindo que não dá pra ajudar quem não quer ser ajudado. E que, muitas vezes o Estado vai falhar com quem mais precisa.
As pessoas seriam cruéis e passariam umas por cima das outras sem dó. Sem nada que você possa fazer, além de conter os danos da coisa. De qualquer forma, minha jornada com o direito não é o ponto.
O que eu preciso que entenda é simples:
terceirizar a culpa de escolher errado pode parecer gostozinho em um primeiro momento, mas a vida cobra. E cobra com juros.
No fim do dia, minha mãe estava certíssima naquela carta há mais de 10 anos: ela, ou qualquer outra pessoa, poderiam mesmo me dar conselhos, mas não poderia escolher por mim.
Porque, mesmo que tenha alguém (ou muitos alguéns) para culpar,