#2. Coisas que nunca quis, inveja e as metas do ano.
Um guia (honesto e um pouco invejoso) sobre o que deveria entrar nas suas metas de 2025.
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Eu tinha um planejamento diferente para a carta de hoje, íamos falar de outro assunto, mas esse cruzou o meu caminho e a voz do anjo sussurrou no meu ouvido: você tá colocando toda a sua inveja nas metas de 2025, gata. E talvez este também seja um problema seu.
Antes de dizer que não sente inveja de nada nem ninguém, chegue até o final antes de formar uma opinião sobre isso, ok? Se mesmo assim seguir discordando, comente (com educação e respeito) aqui e vamos debater sobre isso.
Vamos ao que interessa:
As famigeradas metas de ano novo…
Dentro de uma série de coisas que a gente vê os outros fazendo, dá vontade de fazer tudo: uma viagem de dois meses para a Europa; acordar às 4h30 para correr na orla (e olha que a minha cidade nem tem praia); sair da casa dos pais; fazer 77 amigos novos; sair mais (ou menos); comer saudável; criar uma Startup de tecnologia (sem saber nada sobre tecnologia) etc. etc. etc.
Às vezes, olhamos para a vida dos outros e parece tão mais bem vivida do que a nossa, tem mais aventura, diversão, recursos (aqui entram dinheiro e energia, tá?). Não tem ansiedade no fundo da mente ou sussurros de desanimo. As coisas parecem que funcionam perfeitamente, enquanto “eu me esforço tanto”.
Não sei se algo assim já te ocorreu, mas talvez por algum trauma de infância ou interferências no mapa astral, aqui acontece sempre. Estou diariamente acreditando que as outras pessoas são capazes de sentir mais do que eu ou que elas sabem algo que não sei.
Fantasio o que elas sentem em situações que provavelmente não gostaria de viver apenas porque “ela sente algo que eu jamais vou sentir”.
Muitas vezes olhei para o lado e senti inveja de algo que eu imaginei que alguém sentiu ao viver tal coisa.
Não inveja das conquistas, da faculdade de medicina (passo mal só de ver sangue), do concurso pra Promotoria (nem tenho experiência jurídica suficiente pra começar a pensar nisso), do pedido de casamento na Torre Eiffel (a França nem é um lugar que quero conhecer).
Senti inveja da felicidade que inventei na minha cabeça que essas pessoas sentiram quando viveram isso.
E a maior esquisitice sobre isso é que me apaixono pela história dos outros, suas rotinas, trabalho, viagens e, especialmente, pelo que aparentam sentir, sem ter aqueles objetivos.
Quero viver o que as outras pessoas vivem, mas sem necessariamente calçar aqueles sapatos e percorrer aquele caminho. Não porque o caminho é difícil e tem um preço que não quero pagar, mas porque nenhuma parte de mim quer viver isso (com ou sem dificuldades no percurso).
Quero sentir o que imagino que os outros sentem. E eu não gosto de sentir inveja.
Por exemplo, eu tenho pavor de bloquinho de carnaval. Esbarra em todos os meus limites sociais: lugares lotados, gente suada e fedida, risco de ser assaltada, pessoas muito bêbadas… enfim, demais para uma menina mulher introvertida que gosta de ler livros de madrugada com uma vela acesa e seu skincare em dia.
No entanto, quando vejo amigos meus que gostam de bloquinho postando fotos e vídeos... Bom, aí eu tenho inveja. Me dá uma vontade bizarra de estar naquele lugar, com todas as coisas que eu detesto, só pra ver se eu sinto a alegria que eu ACHO que eles sentem.
Então você vai para esse lugar e fica com a cara de bunda, se passando pela amiga chata, só porque ouviu as vozes da sua cabeça dizerem que essas pessoas sentiam algo que você nunca vai sentir. Acredito que todo mundo já passou por isso uma vez na vida. E se não passou, ainda vai passar.
Às vezes, sis, a inveja nos faz fazer coisas ridículas. Especialmente quando negamos que sentimos inveja.
Depois de refletir muito…
Talvez eu acredite que elas são capazes de sentir mais do que eu, porque de fato são. Não posso sentir o seu vazio, as suas dores ou alegrias. Assim como não posso julgar isso.
Não sei como vai se sentir quando fizer aquela viagem para a Turquia sozinha ou quando receber o diploma de Bacharel em Ciências Médicas ou vestir um colant, um tutu e uma orelha de bicho para o carnaval. Eu nem sei se quero conhecer a Turquia, nunca tive vocação pra médica e definitivamente não quero ir pra bloquinho de carnaval em 2025...
Olhamos a rotina alheia com um olhar de “ela sabe mais do que eu”, encantamento e até um pouco de inveja. Fazemos metas supercomplexas e que nem fazem sentido com a nossa personalidade, acreditando que se copiar o que os outros fizeram e pareceram sentir o que nosso vazio está sedento para sentir.
Talvez, eu pare de sentir inveja de uma projeção que eu fiz sobre as conquistas dos outros e passe a me mover por algo diferente da inveja.
Outro exemplo: se eu seguir o treinamento e rotina aparentemente perfeita daquela influencer de 20 anos que é rica&odiada por viver a vida fitness dela, acordando as 4h da manhã pra treinar e fazer devocional, talvez tenha a paz que ela aparenta ter.
E honestamente,
muitas das coisas que os outros fazem e funciona pra eles, não vai funcionar pra mim ou pra você, pelo simples fato de que nós não somos a tal influencer rica&odiada ou qualquer outra pessoa.
Acordar 4h da manhã, ainda que eu cumpra as 8 ou 9 horas de sono necessárias para descansar, vai me fazer ter dores de cabeça durante o dia, dormir as 20h me faz perder tempo precioso com meus pais e por isso não funciona pra mim. O que também não significa que não é a melhor coisa que aconteceu com ela e que não possa ser a melhor coisa que aconteceu com você.
Então, quando se sentar para escrever metas do ano, se inspire nos outros (porque a viagem para a Turquia pode ser muito legal), mas fique somente com as coisas que você gostaria de viver por você.
Ter um planejamento e escrever as coisas que gostaria de fazer durante o ano é muito legal e super importante. Inclusive, estou fazendo as minhas metas aos poucos seguindo as dicas:
Vá além da inveja e das histórias que sua cabeça criou para preencher as lacunas que você não conhece sobre o outro.
Separe as emoções e conquistas que realmente quer viver, não escute TODAS as vozes da sua cabeça - isso vai te deixar maluca.
Escolha viver desafios grandes, enormes… tenha coragem de sonhar, não se limite quanto a isso.
Espere por mudanças de plano, porque as coisas mudam conforme a gente vive. Entenda que planejamento é apenas um guia, não se prenda a ele tão fortemente.